Clemente Palmeira é pescador e morador em Cedovém é uma das vozes que critica o “desaparecimento” destes espaços - que assegura já muito terem sido fustigados pela construção do esporão há mais de 16 anos.
“Já nessa altura fomos contra a construção do esporão e alertámos que iria conduzir à destruição da praia - o que acabou mesmo por acontecer e só não está pior porque lutámos para que metade fosse retirada”, contou o pescador, assinalando que em cerca de três anos, o esporão fez recuar o areal cerca de 150 metros - acabando por colocar à mercê as construções existentes.
“Nós nunca precisámos de um esporão aqui, porque esta praia tem aqui um rochedo natural à volta que protege da erosão do mar”, salientou.
José Godinho, arquitecto e também proprietário, é outra das vozes que discorda da execução do plano de ordenamento - que está a ser executado pelo programa Polis Litoral Norte - apontando para a importância “histórica, cultural e patrimonial” dos lugares de Cedovém e das Pedrinhas. Trata-se de um conjunto de construções que originalmente serviam para guardar embarcações, alfaias agrícolas e recolha/armazenamento de sargaços.
As referências mais longínquas da existência destes aglomerados remontam a 1877 - “sendo usado pelas comunidades locais desde tempos imemoriais, precisamente para neles estenderem o sargaço e o pilado”.Assim consta do requerimento enviado em 2010 (tendo havido já outra tentativa em 2002) ao Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR), assinado por vários professores universitários e arquitectos, em que a comunidade pedia a sua classificação.
O requerimento acabou por ser arquivado pelo IGESPAR, que no entanto, enviou o processo à câmara de Esposende com o objectivo de uma “even tual classificação do conjunto com o grau de Interesse Municipal” - facto que nunca se viria a concretizar.
“Estes lugares têm uma história muito antiga, mas para além disso esta é também uma questão de sustentabilidade, porque há aqui pessoas que passam férias, mas também lavradores e pescadores que tiram daqui o seu sustento”, chama a atenção José Godinho. “Estes espaços merecem ser preservados, tirando partido até das oportunidades turísticas. A remoção aqui não faz sentido nenhum”.
Óscar Silva é também proprietário de uma das construções de Cedovém, que assinala o valor das edificações, considerando que se for requalificado como a comunidade entende poderá até ser transformado num local turístico como a Sortelha ou Monsanto. “As edificações que mantêm a traça original devem ser preservadas e recuperadas”.Câmara quer manter apenas três construções
A câmara de Esposende diz que o “conjunto de casas abarracadas, restaurantes sem as mínimas condições e onde alguns particulares têm ali a sua segunda habitação não têm interesse municipal, nem cultural, nem patrimonial”.O presidente da autarquia de Esposende, João Cepa, diz que “existe, sim, uma grande preocupação com as pessoas que têm nos lugares de Cedovém e das Pedrinhas a sua primeira habitação e com os pescadores que ali utilizam os armazéns de apoio à sua actividade - e esclarece que a pretensão da câmara é construir novos armazéns e restaurantes, com melhores condições, nas proximidades”.“Tal como estão aqueles lugares não dão uma boa imagem à Apúlia e são sempre referidos como um ‘mau exemplo’ de ocupação da orla costeira”, disse.
A câmara de Esposende defende que sejam, todavia, mantidas e perpetuadas apenas “três das construções existentes (uma em Cedovém e duas nas Pedrinhas) - que considera ainda não terem sido muito adulteradas”.
“O objectivo é para que estas três casas passem para a gestão pública, a fim de ali serem instalados postos de informação turística e de apoio à actividade, como a venda de artesanato”.
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