I
Porque suporto um sofrimento intenso?
Porque, vendo a Miséria, eu adivinho
Quanta dor há no seu viver mesquinho?
Eu sofro, porque sinto, porque penso.
Porem querendo, facilmente venço
A Dor com que a mim mesmo de definho.
E rio logo, delirando, imenso.
Mas só pela minha alma ser afeta
A delicado sentimentalismo,
A Natureza fez de mim um Poeta.
A Dor é tributo da Razão
Entregue à Natureza, penso e sismo...
E, enquanto sismo, quantos chorarão!
II
Bebo um copo de Porto, com ardor,
E logo me adormece a mágoa e invade
Meu ser uma letal felicidade
Que me tolda a razão levando a dor.
Mas há alguma coisa superior
Ao cérebro que tem a claridade,
Que esparge a luz ardente da verdade?
A uma razão pujante de Vigor?
Ela que imortaliza alguns mortais,
Me vai tornando um ser menos mesquinho,
Aperfeiçoa, eleva os meus ideais.
Por isso, a Dor há de tentar-me em vão
A acalenta-la na embriagues do vinho,
Que, embora dê prazer, tolda a Razão.
Roberto C Macedo 1909
Sem comentários:
Enviar um comentário