O presidente da câmara de Esposende alertou hoje para “situação de grave perigo” na restinga e na barra de Esposende, salientando a necessidade de fazer “obras duradouras” para proteção de “pescadores e da própria cidade”.
Em declarações à Lusa, Benjamim Pereira referiu-se ao acidente desta madrugada na barra, em que um barco ficou encalhado “por ter sido atirado contra a margem”, como “mais um episódio e o prenúncio daquilo que pode ser um dia uma catástrofe”.
Segundo o autarca, “há anos e anos que a autarquia solicita obras aos sucessivos Governos”, referindo que “ao longo dos anos têm sido feitas intervenções como soluções a curto prazo” mas sem resolver a “questão de fundo” da barra e da restinga.
“Temos aqui um problema de uma restinga destruída e de um rio completamente assoreado. Dois problemas que se arrastam e que implicam com a atividade económica do concelho ao dificultar a atividade piscatória, mas principalmente porque põem vidas em risco”, referiu o autarca.
Benjamim Pereira salientou que “não é só a atividade piscatória que está em causa mas também as populações e estabelecimentos porque se há uma grande tempestade, habituais nesta zona, há cerca de meio quilómetro da costa que fica em risco”.
A autarquia, garantiu, “tem planos para retirar as pessoas do local numa urgência mas não pode evitar os danos materiais”.
“Já houve várias reuniões entre a autarquia e as entidades envolvidas, a Polis, a Agência Portuguesa do Ambiente, o ministério com a tutela das pescas, há projetos, a autarquia está disposta a financiar as obras, se for esse o caso, mas tudo acaba por esbarrar em burocracia”, lamentou Benjamim Pereira.
Para o autarca a questão tem que “ser vista de uma outra forma” além do prisma ambiental ou económico.
“Isto já é uma questão de Proteção Civil. De agir em defesa das populações e da própria cidade. Podíamos estar agora a lamentar mais duas mortes”, apontou.
A Câmara Municipal de Esposende apresentou uma candidatura ao Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR), denominada de Estudo de caracterização de riscos e programa de intervenção para a proteção da Restinga de Ofir e Barra do Cávado, que ainda aguarda implementação.
O autarca referiu ainda estar a aguardar uma reunião com o ministro do Ambiente para discutir a “questão da barra e restinga” de Esposende.
A barra de Esposende remonta a 1795 quando a rainha D. Maria aprovou por Alvará Régio as Obras de Encanamento do Rio Cávado, seguindo-se, em 1860, estudos para a sua navegabilidade. Em 1884 foi feito o primeiro projeto de melhoramento do Porto e Barra de Esposende e Encanamento do Rio Cávado e em 1935 mais um projeto de reconstrução do paredão da Barra do Porto de Esposende.
Em 1994 foi feita uma drenagem da barra e alimentação de areias na restinga, seguida de nova intervenção em 1998 e mais uma em 2001. Em 2003 foi elaborado um Estudo de Impacte Ambiental do Projeto de Melhoria da Barra do Cávado e em 2006 uma nova dragagem e alimentação de areias na Restinga.
No ano de 2015 foi feita uma nova drenagem da Doca de Pesca e uma Empreitada de reforço da restinga através da colocação de geocilindros, tendo sido necessário mais uma intervenção em 2016 e no ano de 2018 foi efetuada uma nova dragagem da Barra do rio Cávado e Alimentação artificial de praias adjacentes.
“Há 200 anos que se fazem intervenções mas não se resolve o problema de fundo”, salientou Benjamim Pereira.
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