INTRODUÇÃO

Pedrinhas e Cedovém são dois Lugares à beira mar, situados entre Ofir e a Apúlia, no concelho de Esposende - PORTUGAL.
Localizam-se num lugar calmo em cima do areal, onde pode almoçar e jantar com uma gastronomia típica local e poder usufruir de uma paisagem natural marítima Atlântica a uma temperatura do Litoral do Sul da Europa. Os caminhos e os percursos de acesso ainda se encontram em areia e criam uma composição que conjuga de forma perfeita entre a topografia e época das construções, o que dá um cunho único ao Lugar. Se estivermos acompanhados com alguém especial, imediatamente nos apaixonamos e nunca mais conseguimos cortar o "cordão umbilical" com este LUGAR cheio de magia e de uma beleza natural única.

2020/12/08

ANTIGAS ATIVIDADES AGROMARÍTIMAS EM PORTUGAL - Homenagem a Benjamim Pereira

HOMENAGEM A BENJAMIM PEREIRA QUE FALECEU ESTE ANO 2020

Um adeus e um agradecimento ao ultimo membro da equipa que criou o Museu de Etnologia e deu a ver Portugal com rigor cientifico que se impunha, manteve-se sempre exigente e generoso.

Benjamin Pereira
Fotografia de Cláudia Freire

Entrevista a Benjamim Pereira: "Uma aventura prodigiosa"

Barracos


Ao longo de todo este sector costeiro, vêem-se, ora alinhados ora dispersos junto à orla da praia, barracos de abrigo e arrecadação de barcos e aprestos de apanha de sargaço e de pesca, que também podem servir de residência temporária de pescadores e sargaceiros, e que se apresentam sob variados tipos. Baldaque da Silva, na descrição daquilo a que dá o nome de «portos de pesca» e «portos de sargaço», que são todos os locais onde essas actividades têm lugar, mesmo simples recantos da praia desertos, indica a existência desses barracos em muitos pontos, nomeadamente desde o Cabedelo de Caminha até Sedovem, e depois apenas em Vila Chã, precisando por vezes rigorosamente o seu número e localização – que não raro condizem com o que até há poucos anos subsistia–, nada porém dizendo quanto à sua forma, materiais de construção, etc. Por seu lado, Rocha Peixoto tenta uma classificação desses barracos – que parece considerar todos de tabuado – mas apenas sob o ponto de vista da classe social das pessoas a que eles correspondem ; e diz que os barracos que existiam desde o Cabedelo de Caminha até ao Gramadouro (Pedrinhas), eram abrigos ou residência temporária de sargaceiros-lavradores ; os da Apúlia, Aguçadoura e Averomar, eram abrigos e residências temporárias de gentes que cumulavam mesteres rurais e marítimos; e os de Sedovem e Vila Chã, eram residências permanentes de pescadores –constituindo portanto verdadeiras aldeias –, encontrando-se aí e em muitos outros pontos da costa para o sul até ao Algarve, «quase numa imutável traça»; nada indica, porém, do mesmo modo que Baldaque da Silva, quanto à forma desses barracos, tipo de construção, etc. Ver-se-á que, neste capítulo especial, as nossas observações e os informes por nós colhidos quanto ao passado, que a seguir passamos a expor, se afastam consideravelmente da opinião deste Autor1.

Como dissemos atrás, em muitos casos – nomeadamente na Amorosa, Castelo de Neiva, Aguçadoura, Averomar, Mindelo, Vila Chã, etc. –, foram estes barracos o ponto de partida da constituição dos aglomerados costeiros que hoje existem naqueles locais, com uma população de cabaneiros e pescadores que aí se fixou em data recente. Por vezes, um ou outro de tais aglomerados, nos primeiros tempos da sua existência, vinham indicados nos mapas com o nome de «Barracos» das povoações rurais que lhes correspondem no interior, não raro muito antigas, nas quais residiam as pessoas a quem esses barracos pertenciam – por exemplo Barracos de Vila Chã.

Mais tarde, acompanhando a procura crescente de locais apropriados para banhos de mar, aqueles aglomerados evoluíram no sentido de se ajustarem a essa feição, que hoje predomina, e ao novo público que lhe é próprio, com novos costumes e conceitos habitacionais, novas exigências e possibilidades materiais. E hoje assistimos não só à transformação desses aglomerados em estâncias de veraneio – como sucedeu na Foz do Neiva, no Mindelo (onde os velhos barracos desertados foram demolidos por imposição camarária), etc. – mas mesmo, como dissemos, à adaptação dos próprios barracos a pequenas casas de férias ou fins de semana de acordo com a moda generalizada de um rusticíssimo mais ou menos sofisticado, como está a suceder em Sedovem, nas Pedrinhas, no Facho (Fão), etc.

Já não é fácil reconstituir com segurança todas as formas que apresentaram, em tempos passados, mais ou menos distantes, os barracos de recolha da ferramenta do sargaceiro, e de barcos e aprestos para a pesca do pilado e peixe. Agrupados em número muito variável, eles erguiam-se em locais escolhidos pela abundância do sargaço e pela proximidade da área habitada. A sua regular implantação actual em filas ou arruamentos é relativamente recente, e foi acompanhada por uma melhoria de construção e aumento de dimensões. Eles dispunham-se, pelo menos na maior parte desses agrupamentos, a esmo pela praia, em geral mais próximos da água que actualmente ; localizavam-se assim na faixa pertencente aos Serviços Hidráulicos, que, em certo momento, passaram a cobrar o aluguer do terreno, podendo também ordenar a sua demolição sem qualquer indemnização. Isto motivou a sua construção em terrenos particulares, mais afastados do mar; construção que foi então melhorada, adoptando-se a forma que têm presentemente, ou formas intermédias entre essa e a primitiva.

Na Apúlia, os barracos de abrigo situam-se na praia ou logo atrás, no limite do casario da beira-mar, e hoje, em certos casos, já à mistura com ele. Mas presentemente, ali, já não existe nenhum desses barracos de madeira e palha; agora encontram-se apenas duas categorias distintas de barracos : uns, de tabuado, que parecem ser predominantemente residências de pescadores, e outros de pedra, de arrecadação de sargaço e aparelhagem diversa, em ambos os casos alinhados em arruamentos rectilíneos com as coberturas de telha a duas águas, mostrando sempre o cume paralelo à rua, formando como que um telhado único, com o beiral horizontal sobre as portas (des. 28). Uns e outros apresentam formas variadas, não se podendo falar a seu respeito num modelo definido. Os barracos de pedra encontram-se de preferência mais ao sul, e os de madeira mais ao norte ; mas nas duas áreas aparecem também barracos de ambas as espécies, e ao sul vemos barracos de madeira no meio dos de pedra, servindo ora de arrecadação de sargaço, ora de residência de sargaceiros ou pescadores, enquanto que ao norte, alternando com os de madeira, se vêem barracos de pedra por vezes isolados e dispersos no areal, onde vivem também essas gentes.
Barracos de pedra alinhados

No vizinho agrupamento de Sedovem, as mesmas variedades e irregularidades se notam, existindo longos arruamentos ora de pedra ora de madeira (des. 29) a par de outros de pedra (fig. 42), os primeiros de lavradores dos lugares do interior, e também de pescadores e sargaceiros-cabaneiros, os outros apenas de lavradores. E conserva-se aí a memória da existência de barracos semelhantes aos actuais da Aguçadoura que descrevemos, mas todos recobertos de palha borega, mesmo as paredes.
Sedovém - barracos de madeira alinhados

Na categoria dos barracos de pedra, aparecem aqui alguns exemplares de um tipo peculiar, isolados a esmo no areal, de forma arredondada, que merecem uma menção especial.

Em Fão, eles são todos isolados, mas alinhados, alternando barracos de planta quadrangular e telhado de duas águas, com barracos de tipo arredondado (fig. 139).
Pedrinhas - Barracos em pedra de planta arredondada

Estes últimos parece corresponderem à forma mais antiga aqui existente; eles têm uma planta grosseiramente elíptica, com o eixo maior perpendicular à linha da costa, e a porta na parte virada para esse lado. As paredes são feitas de pequenos fragmentos, bem assentes, de xisto, e às vezes de quartzites, sem reboco, com 1,80 a 2 metros de altura, excepto as ombreiras, que são de granito. Na padieira, feita de um tronco esquadrejado, cravam muitas vezes tornos de madeira, dos quais penduram a roupa molhada. E o telhado, de telha caleira, de três águas, sobre a qual pousam pedras para a segurarem contra a nortada, forma sobre a porta uma espécie de alpendre. Na retaguarda, um pouco abaixo do cume, abra-se um pequeno postigo, que permite olhar-se para o lado da terra4. Nestes três aglomerados, os barracos de pedra dos lavradores, que, com a decadência das actividades sargaceiras por parte dessa gente, já pouca utilidade têm, estão paulatinamente a ser adquiridos pelos banhistas citadinos, que fazem deles, depois de os comporem e modificarem, casas de férias ou de fins de semana; e pouco a pouco os próprios aglomerados vão tomando o aspecto de pequenas estações de veraneio em crescimento, nas quais, por enquanto, coexistem nitidamente aspectos rústicos e urbanos (figs. 140 e 143), tendo em comum a característica de, em ambos os casos, serem habitados apenas no verão. No Facho, essa transformação articula-se mesmo no movimento de urbanização das dunas de Ofir.



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