Ministro do Ambiente, João Matos
Fernandes, diz que as casas que vão desaparecer estão claramente ameaçadas pelo
avanço do mar. E acrescenta que há outros casos no país que terão de ser
resolvidos
Desde que Carlos Pimenta era secretário de Estado do Ambiente, nos
anos 1980, que se fala na "limpeza" da ria Formosa. O plano em marcha será a
solução definitiva?
É muito difícil falar em soluções definitivas para espaços com esta
sensibilidade natural. Com os dados que temos hoje , não olhamos para as ilhas
da barreira como tendo todas o mesmo risco. Sentimos que o maior risco está nos
extremos nascente e poente da ilha de Faro. E, por isso, aí, muito mais do que a
ideia de fazer demolições, queremos tirar as pessoas de lá, porque de facto
estão em risco. E tirar as pessoas de lá é encontrar um sítio para onde elas vão
e depois, naturalmente, demolir as habitações.
Mas com algumas ressalvas...
Esta é sempre uma zona de grande sensibilidade, que implica grande cuidado, e
que inibirá em absoluto a construção de mais o que quer que seja neste espaço.
Agora, indo ao encontro do programa de governo, incidimos sobre as zonas de
risco identificadas, salvaguardando o núcleo histórico da Culatra e o centro da
ilha de Faro, porque são aglomerados urbanos em consolidação e, como muitos
outros aglomerados urbanos que existem no país e estão à beira-mar, terão de ser
requalificados e protegidos.
Estas 81 demolições serão concluídas em breve?
As notificações foram feitas hoje [ontem]. Portugal é um Estado de direito e,
portanto, poderá sempre existir um conjunto de contestações judiciais. No
entanto, em mais de 60, essas contestações judiciais já foram feitas e foram
ganhas a favor do Estado. Acreditamos que, dentro de um mês, de pelo menos 60
destas habitações, que são, repito, nenhuma delas primeira habitação, poderá
iniciar-se a sua demolição a partir do final de outubro.
Ao longo deste processo foi sendo levantada a suspeição de que,
feitas as intervenções, poderiam surgir novas construções, empreendimentos. Para
que fique claro, apenas estão em causa os realojamentos e legalizações que
constam do plano?
Fica claro que, sim, no núcleo da Culatra haverá a legalização das primeiras
habitações que são de pessoas que têm a sua atividade ligada à pesca...
Referiu há dias, no Parlamento, que a ria Formosa não é a única
situação do género em Portugal e que há outras, nomeadamente a norte. Pode
adiantar mais alguma coisa a esse respeito?
Posso. Aliás, foram apresentadas no sábado passado. Para além de algumas
situações mais pontuais, no município da Póvoa de Varzim e de Matosinhos, existe
uma zona de enorme risco na costa de Esposende: os aglomerados de Pedrinhas e de
Cedovém, cujo processo administrativo está muito mais atrasado do que este. Nada
acontecerá nos tempos mais próximos. Mas são zonas onde é impossível garantir a
segurança daquelas casas por um período de anos em função do avanço do mar.
E essas são situações em que conta ter pelo menos uma solução
encaminhada até ao final desta legislatura?
No que diz respeito às situações mais pontuais, algumas delas têm licenças,
que caducam dentro de meses, e que a partir daí poderá proceder-se à sua
demolição. Repito: são coisas absolutamente pontuais. No que diz respeito à
frente de mar de Cedovém e de Pedrinhas, foi lançado - aliás, foi assumido um
compromisso pelo próprio diretor regional, foi ele que fez a apresentação - no
sentido de se iniciar esse processo. Porque são zonas com um risco ao mar
evidente.
Estão previstas várias intervenções para a ria Formosa. Como serão
financiadas?
Nas intervenções de naturalização [demolições] e requalificação da Culatra
serão utilizados fundos comunitários. Os outros quatro grandes projetos são
pagos pelo capital próprio da Sociedade Polis e em cerca de 25% pelas
autarquias. Nos dois projetos de realojamento serão financiados pelo Prohabita,
que paga até 30% a fundo perdido. E o resto é da responsabilidade da Câmara
Municipal de Faro, com capitais próprios ou crédito bancário.