INTRODUÇÃO

Pedrinhas e Cedovém são dois Lugares à beira mar, situados entre Ofir e a Apúlia, no concelho de Esposende - PORTUGAL.
Localizam-se num lugar calmo em cima do areal, onde pode almoçar e jantar com uma gastronomia típica local e poder usufruir de uma paisagem natural marítima Atlântica a uma temperatura do Litoral do Sul da Europa. Os caminhos e os percursos de acesso ainda se encontram em areia e criam uma composição que conjuga de forma perfeita entre a topografia e época das construções, o que dá um cunho único ao Lugar. Se estivermos acompanhados com alguém especial, imediatamente nos apaixonamos e nunca mais conseguimos cortar o "cordão umbilical" com este LUGAR cheio de magia e de uma beleza natural única.

2018/02/11

Tu ainda não tinhas nascido e nós já cá estávamos - OFIR 1910


Em 1940 ainda não existia Ofir, haviam somente algumas construções.

A esta zona chamava-se Lugar das Barracas. Havia aqui um Posto da Guarda Fiscal e intitulava-se Zona das Areias de Apúlia e Aguçadoura


Havia somente estas construções, como prova esta carta da JCI - Junta de Colonização Interna



2018/01/21

Aprovada lei para legalizar primeiras habitações na Culatra

O Parlamento aprovou esta sexta-feira, em votação final global, a lei que altera o regime de utilização dos recursos hídricos e permitirá legalizar casas em núcleos residenciais piscatórios na ilha da Culatra, em Faro


O Parlamento aprovou esta sexta-feira, em votação final global, a lei que altera o regime de utilização dos recursos hídricos e permitirá legalizar casas em núcleos residenciais piscatórios na ilha da Culatra, em Faro.
Na hora da votação, apenas o deputado do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) se absteve, e as restantes bancadas votaram a favor.
O processo legislativo começou com a aprovação, em Conselho de Ministros, em 28 de setembro, de um diploma que “permitirá a regularização de situações de ocupação do domínio público hídrico sem o devido título de utilização”.
Menos de um mês depois, a 20 de outubro, o Parlamento aprovou, por unanimidade e na generalidade, este diploma.
Na discussão na especialidade foram feitas pequenas alterações, permitindo a legalização de casas de primeira habitação não só das pessoas ligadas à comunidade piscatória, mas também quem presta “serviço à comunidade”.
Segundo o Governo, a partir de agora poderá haver um “tratamento adequado de situações para as quais as regras vigentes se manifestavam desadequadas”.
Na proposta de lei, o Governo aponta como “caso paradigmático” o núcleo da Culatra, na ilha da Culatra do sistema lagunar da Ria Formosa (Algarve), que “constitui um aglomerado piscatório com raízes históricas e com evidências claras de uma ocupação antiga e que detém um estatuto social, económico e cultural merecedor de reconhecimento e valorização”.
Com esta alteração, são criadas “as condições que permitem a legalização das referidas ocupações dentro dos limites estabelecidos no plano de ordenamento da orla costeira em vigor para a área”, dispensando-se a realização de procedimento concursal para a escolha do utilizador e permitindo-se “a renovação dos títulos de utilização por um período máximo de 30 anos” ao conjunto dos títulos emitidos.

2018/01/15

Governo não quer avançar com o Plano A, que custaria só 6 milhões e meio em proteger e opta por 14 milhões em demolir

GOVERNO AFETA 17 MILHÕES DE EUROS A DEMOLIÇÕES EM ESPOSENDE E VIANA



O novo plano de gestão da orla costeira prevê a demolição de diversas construções nas zonas de Apúlia e Ofir, em Esposende, e nas praias da Amorosa e de Castelo de Neiva, em Viana do Castelo. As operações têm uma dotação financeira na ordem dos 17.000.000,00€ para eventuais indemnizações e deslocalização de unidades de restauração existentes nas áreas de intervenção.




A intervenção de maior dimensão vai decorrer nas praias de Pedrinhas e de Cedovém, na Vila de Apúlia. O Plano Ação Litoral XXI, da responsabilidade do Ministério do Ambiente, atribuiu à operação uma prioridade «elevada». A intervenção é para arrancar em 2019 e tem uma dotação financeira de 14 milhões 386 mil 204 euros, montante que é garantido pelo Polis Litoral Norte, pela Agência Portuguesa do Ambiente e pela Administração Hidrográfica do Norte.


Salienta o novo plano de gestão da orla costeira que o grande objetivo da intervenção reside em «prevenir o risco [de erosão?] através da retirada programada de ocupações» na área nascente. As demolições serão seguidas do processo de «renaturalização das áreas a desocupar», da «manutenção e reforço do cordão lunar» e da «instalação de vedações e passadiços» de forma a que o acesso às praias seja reordenado.


«Pretende-se também relocalizar as unidades de restauração existentes ao longo da via pública», sublinha o Plano de Ação Litoral XXI. Para fora da zona de risco serão também relocalizados os «arrumos de aprestos de apoio à pesca», bem como algumas construções à atividade de pescadores que se encontram «ao longo da via pública».
O rol de demolições apontadas para a zona costeira de Esposende vai ainda incidir sobre construções em zona de risco, na parte sul da praia de Ofir, e na praia Suave Mar.


Estas duas operações têm reservado 643 709 € e 387 874€, respetivamente. O arranque das demolições está previsto para 2019, no caso da praia de Ofir; para o ano 2021 está previsto o arranque dos trabalhos de demolição e renaturalização da praia Suave Mar. A intervenção em Ofir é de prioridade elevada.

Esposende já tem reservados quase 32 000 000,00€ para investimentos no ambiente e as verbas começam a chegar este ano.

2017/12/06

Barra de Esposende já não é só perigo para os pescadores





 O município de Esposende elaborou um plano de contingência para galgamentos costeiros que visa prevenir situações de risco e definir procedimentos de protecção de pessoas e bens, em caso de catástrofe. O plano foi apresentado, na semana passada, numa reunião onde foram debatidas as medidas já assumidas e seus resultados, obras em curso, e onde foram ponderadas as acções futuras a desencadear na embocadura do Rio Cávado.

O que pretendemos é a estabilização do sistema dunar que forma a restinga, assim como a melhoria das condições de navegabilidade no rio e na barra em particular, que colocam em perigo todos aqueles que nele navegam' assume o presidente da Câmara Municipal de Esposende, Benjamim Pereira, que admite que “no momento e condições actuais da restinga, acresce assegurar a defesa da população e seus bens nesta zona mais exposta à acção do mar”.

A autarquia de Esposende está disposta a disponibilizar recursos próprios para “patrocinar o avanço imediato de uma solução com carater definitivo”.

Neste contexto, o Município esposendense vai criar um grupo de trabalho para acompanhar as obras de protecção bem como o plano de intervenção e monitorização da orla costeira, constituído pelas entidades presentes na reunião, nomeadamente: representantes do Município, da Protecção Civil, das corporações de bombeiros, da Autoridade Marítima, dos pescadores, das juntas de freguesia, da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e do ICNF, mas também da comunidade científica.

Benjamim Pereira admite que o actual estado de conservação da restinga constitui “enorme preocupação para o Município”.

A destruição da restinga faz com que a ondulação chegue já junto à avenida marginal. As  medidas de autoprotecção contemplam a intervenção, em último recurso, de engenharia pesada, para colocação de barreiras junto à marginal”, disse o responsável pela Protecção Civil de Esposende, Carlos do Carmo, na reunião realizada a semana passada.


Benjamim Pereira assegurou que “o município não apoiará soluções experimentais que continuem a consumir recursos financeiros e que não resolvam o problema” porque, enfatizou, “no dia em que acontecer uma catástrofe em Esposende, a obra avançará de imediato e serão ultrapassados os obstáculos que agora vêm sendo colocados, só que aí será tarde demais para alguns.” 

A actual situação da Barra de Esposende é um enorme problema para o desenvolvimento do concelho, um risco enorme para os pescadores e agora também para a própria cidade de Esposende. Cabe-me alertar as entidades responsáveis, e trabalhar com elas no sentido de encontrar soluções” adiantou o edil.

O presidente do conselho de administração da Polis Litoral Norte, Pimenta Machado, explicou as razões que fizeram com que não tivesse resultado a solução anteriormente adoptada, apontando como principal problema “o incumprimento da especificidade dos geocilindros, por parte do fornecedor”. “Vários aspectos fragilizaram a solução que ali foi desenvolvida”, adiantou Pimenta Machado que anunciou, para Março do próximo ano o arranque das obras de recomposição da restinga, a dragagem da barra com deposição das areias nas praias adjacentes, assim como a reconstrução do molhe longitudinal ao rio. De resto, a intervenção prevista para a praia da Bonança, em Fão, arrancará no mesmo mês.



Um dos responsáveis pela situação atual de Pedrinhas e Cedovém é a Câmara de Esposende




Esta é uma das várias casas que estão em risco de derrocada, por causa da falta de proteção e pelo abandono por parte do Município de Esposende.

Viana do Castelo. Praia Norte inaugurada pelo ministro do Ambiente



O ministro do Ambiente, José Pedro Matos Fernandes, inaugurou a empreitada de Defesa Costeira, Proteção de Pessoas e Bens e Requalificação da Frente Marítima da Praia Norte, uma obra da Polis Litoral Norte orçada em 3,1 milhões de euros e comparticipada pelo POSEUR (Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos).
A empreitada da Polis Litoral Norte teve duas fases distintas: uma primeira empreitada de Defesa Costeira e Proteção de Pessoas e Bens na frente Marítima da Praia Norte e, na segunda fase, a Requalificação da Frente Marítima, que pretende assegurar a manutenção equilibrada desta faixa da orla costeira particularmente ameaçada pelo efeito do mar e pela ocorrência de ocupação densificada.
Na primeira fase, decorreram obras de consolidação de infraestruturas de proteção da erosão costeiras, redes de infraestruturas necessárias e o reordenamento do estacionamento. Na segunda fase, foram executadas as praças temáticas, instalação de mobiliário urbano e equipamento de recolha de lixo, árvores e vegetação, sinalização e iluminação pública e remates de infraestruturas e, recentemente, foi aberto o novo parque infantil.
A intervenção, agora concluída, criou um novo muro de proteção costeira recuado relativamente ao anterior, aumentou a área de praia, substituiu a circulação automóvel na frente marítima por um amplo passeio pedonal, concentrou o estacionamento automóvel na retaguarda, criou um conjunto de praças temáticas vocacionadas para os mais diversos usos – áreas relvadas, zona infantil, auditório natural e equipamentos de restauração e de uso público, os já existentes e os previstos para breve – dotou a globalidade do espaço de mobiliário urbano e iluminação modernos, e assegurou a continuidade do circuito da Ecovia do Litoral Norte, valências que no conjunto rapidamente potenciaram o uso diurno e noturno, exclusivamente pedonal e ciclável, deste espaço marítimo de excelência.
Na cerimónia, o ministro do Ambiente, José Pedro Matos Fernandes, sublinhou que a Praia Norte “é um exemplo” daquilo que tem que ser feito no litoral para o combate à erosão costeira e proteção, sublinhando o trabalho conjunto das autarquias e da Polis Litoral Norte que, só em Viana do Castelo está a investir 30 milhões de euros no litoral.

2017/11/16

Tripulantes resgatados após naufrágio de barco de pesca em Esposende

Naufrágio aconteceu de madrugada em frente às torres de Ofir. Já esta manhã, um outro barco virou em Valadares e os pescadores chegaram à praia a nado

 
Uma embarcação de pesca naufragou hoje ao largo de Esposende, mas os dois tripulantes que nela seguiam foram resgatados com vida, disse à Lusa fonte da Capitania de Viana do Castelo. Segundo a fonte, o naufrágio aconteceu pelas 05:20, numa zona "em frente às torres de Ofir".
Os tripulantes, de 55 e 56 anos, foram resgatados por uma outra embarcação que operava no local. Um deles "apresentava sintomas de hipotermia". Foram os dois transportados para o hospital.
Também esta quinta-feira, uma pequena embarcação de pesca virou ao largo da praia de Valadares Norte, em Gaia, avança o Jornal de Notícias. Segundo a mesma fonte, os dois tripulantes da embarcação vieram a nado até à praia e foram socorridos pelos bombeiros Sapadores de Gaia e Voluntários de Valadares. O alerta foi dado pelas nove da manhã.

2017/10/19

Orçamento de Estado para 2018: Governo transfere até 142 mil euros para Polis Litoral Norte e VianaPolis

«O Governo prevê, no âmbito do Orçamento do Estado para 2018, a transferência de até 132 mil euros para a Polis Litoral Norte, e de até 10 mil euros para a VianaPolis, destinados à recuperação daqueles territórios.



A proposta de Lei do Orçamento do Estado para 2018 (OE2018), entregue na sexta-feira pelo Governo na Assembleia da República inclui uma "transferência de verbas, até ao montante de 132.300 euros do orçamento da Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos do Ministério do Mar, para a Polis Litoral Norte - Sociedade para a Requalificação e Valorização do Litoral Norte, S.A.".

Este valor irá destinar-se ao "financiamento de trabalhos de recuperação de cordões dunares com recurso a areias dragadas".

O mapa de alterações e transferências orçamentais contempla também a transferência de até 10 mil euros de verbas provenientes de receitas gerais, da Direção-Geral do Território para a Vianapolis, Sociedade para o Desenvolvimento do Programa Polis em Viana de Castelo, S. A.

O relatório do Orçamento do Estado refere que as "sociedades Polis Litoral (Norte, Ria de Aveiro, Ria Formosa e Sudoeste) foram dissolvidas em 31 de dezembro de 2016, com data prevista para a conclusão da liquidação e partilha aprovada no prazo de dois anos a contar daquela data".

Já a "VianaPolis tem previsto, nos respetivos estatutos, a sua dissolução em 31 de dezembro de 2017".

Relativamente ao encerramento de intervenções realizadas no âmbito dos programas Polis, a proposta de OE2018 refere que "o membro do Governo responsável pela área do ambiente pode proceder, na respetiva esfera de competências, à alocação de verbas resultantes do capital social das sociedades Polis, mediante autorização do membro do Governo responsável pela área das finanças, até ao montante de seis milhões de euros".

 - CONSTRUIDO - 

"As sociedades Polis ficam autorizadas a transferir os saldos para apoiar o necessário à execução das empreitadas que ainda se encontrem em curso à data da transferência para outras entidades, nos termos a definir por despacho dos membros do Governo responsáveis pelas áreas das finanças e do ambiente", acrescenta o texto.

Já na alínea relativa à liquidação destas sociedades, é referido que "o limite da dívida total previsto [...] não prejudica a assunção de passivos resultantes do processo de liquidação das sociedades Polis".

- PARA DEMOLIR - 

Os programas Polis visam promover intervenções nas vertentes urbanística e ambiental, por forma a promover a qualidade de vida nas cidades, melhorando a atratividade e competitividade dos polos urbanos, segundo a Direção-Geral do Território.»

2017/10/09

Há um navio quinhentista "praticamente intocado" na costa de Esposende

Arqueólogos chegaram primeiro que os caçadores de tesouros a um navio do século XVI, que será um dos mais importantes achados a nível mundial, pelas condições em que se encontra.


Uma equipa de investigadores descobriu na costa de Esposende a localização exacta de um navio, provavelmente ibérico, do século XVI, que, desde 2014, vem fascinando a comunidade científica internacional. O estudo das centenas de peças encontradas na praia de Belinho ao longo destes anos, e que incluem objectos da carga e madeiras da embarcação, já deixava antever que se estava perante um achado muito importante para a arqueologia naval, mas a equipa envolvida acabou por ser surpreendida com muito mais do que isso. No fundo do mar, não muito longe da língua da maré, jaz um navio “praticamente intocado” de cerca de 30 metros de comprimento, protegido por uma camada de sedimentos.

Os banhistas que, por estes dias, se deleitam ao sol e arriscam um mergulho nas águas frias da praia de Belinho não imaginam que, há cerca de 500 anos, o mar atraiçoou um navio, afundando-o a poucos metros deles. Desconhece-se de onde vinha ou para onde ia, sabe-se algo, mas ainda pouco, sobre a carga que transportava e nada sobre o que aconteceu à sua tripulação, mas sabem os arqueólogos que, junto às rochas, na zona de rebentação das ondas, jaz o que resta desse naufrágio, situado, para já, num período entre 1520 e 1580, e do qual foram já recolhidas centenas de peças.

E o que ali está, visto, com os seus próprios olhos, pelo arqueólogo Alexandre Monteiro a 24 de Abril deste ano, num curto mergulho de uma hora e um quarto, e de novo esta semana que passou, não é pouco. “Estamos perante o primeiro naufrágio quinhentista em águas portuguesas a ser encontrado praticamente intocado desde a sua perda”, assinala, num artigo na revista Al-Madan de Julho, o quarteto que vem liderando a investigação, e que inclui Ana Almeida, arqueóloga da Câmara de Esposende, Ivone Magalhães, historiadora, da mesma instituição, e o arqueólogo Filipe Castro, que lidera o ShipLab da Universidade do Texas A&M. “A ser ibérico, tratar-se-á de um dos mais completos sítios desta tipologia e cronologia a ser encontrado a nível mundial”, alertam.

No mês passado, durante a cerimónia que assinalou o centenário do afundamento, na I Grande Guerra, do Roberto Ivens — um navio da armada portuguesa cuja localização descobriu, com Paulo Costa —, Alexandre Monteiro bem dizia ao primeiro-ministro que "o grande museu dos Descobrimentos portugueses e da Expansão — e que ainda não está feito — está todo no fundo do mar". Envolvido em vários projectos de arqueologia subaquática, este investigador do Instituto de Arqueologia e Paleociências da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa identificou parte do costado deste navio em quatro conjuntos de madeiras ainda articuladas entre si, viu quatro canhões, em ferro e em bronze, uma âncora, fragmentos de placas de chumbo que serviriam para protecção do casco e mais pratos em estanho semelhantes aos que vêm sendo recolhidos, na praia, desde 2014.

Esta semana, Alexandre Monteiro e Filipe Castro voltaram ao local, na companhia de John Sexton, um experiente instrutor de mergulho e fotógrafo subaquático a viver há alguns anos em Portugal, que voltou a captar imagens do sítio, bastante mais coberto, desta vez, por areia. Monteiro não tem dúvidas de que o que testemunhou em Abril, altura em que parte do madeirame estava bem à vista, foi uma excepção, o que explica, na sua perspectiva, a preservação deste navio naufragado a salvo da pilhagem mais ou menos organizada. “Se não estivesse habitualmente coberto, o sítio já teria sido saqueado”, afirma. Em todo o caso, com boa visibilidade, puderam fazer algumas medições e perceber que a operação de levantamento dos canhões vai ser complexa. 


O grupo de investigadores, que envolve ainda uma equipa com submarinos autónomos do Laboratório de Sistemas e Tecnologia Subaquática (LSTS) da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, chegou a programar para estes dias uma operação para retirar aquelas peças, mas o mar, que tem ditado o ritmo das descobertas em Belinho, fez-se difícil. Filipe Castro regressou assim aos EUA sem ver, fora de água, as colubrinas que, acredita, podem conter inscrições que ajudem a determinar o fabricante e o momento de fabrico, e a encurtar, dessa forma, a datação possível para este naufrágio do qual, para já, não encontraram registos.

Este navio saiu de algum porto, e não chegou ao destino. Tem de haver, algures, um registo dessa viagem”, nota Ana Almeida. Alexandre Monteiro corrobora. Afinal, na investigação ao naufrágio do navio Nuestra Señora del Rosario (Tróia, Grândola, 1598) encontrou 600 páginas de documentação, oficial e até pessoal, em arquivos portugueses e espanhóis. E ninguém acredita que a perda de um navio que, pelas dimensões de algum do seu madeirame, teria cerca de 30 metros de comprimento de fora a fora, passasse despercebida.


Dentro deste período há o registo do afundamento do Nossa Senhora da Rosa, perdido em 1577 “através de Esposende”, quando carregava vinho e breu das Canárias para o porto de Vila do Conde, situado poucas milhas a sul, mas os investigadores que se debruçam sobre o naufrágio de Belinho consideram que não será essa a embarcação que encontraram, pois este “tem um porte bem maior do que a maioria dos navios que percorriam as rotas das Canárias, Madeira e Açores no século XVI”.


  
A equipa espera que, sob a camada de sedimentos, que Filipe Castro gostaria de limpar, com recurso a uma bomba de sucção, se houvesse recursos para isso, o navio de Belinho tenha muito mais a contar. Ao contrário do que acontecia em naufrágios perto da praia e de povoações, em que nem as madeiras resistiam aos actos de pilhagem — o que explica o uso de partes dos cascos nas casas mais antigas de Angra do Heroísmo, assinala Alexandre Monteiro —, esta embarcação parece ter resistido à cupidez dos seus, e dos nossos, contemporâneos. Que, podendo, nunca deixariam no mar colubrinas em bronze semelhantes à que foi encontrada no navio português Bom Jesus, descoberto em Oranjemund, na costa da Namíbia, e que têm mercado no sector das antiguidades.

Se encontrássemos objectos pessoais, seria muito importante” para a investigação, assume o director do ShipLab, que desde 2015, através do projecto europeu ForSeaDiscovery, do qual faz parte com Alexandre Monteiro, participa no estudo dos achados arrojados à praia. O material encontrado já lhes dá água pela barba e abriu portas a vários projectos de investigação, como o de Adolfo Martins, que está a fazer doutoramento na Universidade de Gales Trinity Saint David sobre a morfologia das 80 peças de madeira recolhidas. Os seus anéis, analisados com recurso à dendrocronologia, permitiram excluir a hipótese de provirem de árvores do Norte da Europa, e as técnicas de construção naval são semelhantes às usadas por cá naquele período, mas é preciso mais informação para se poder confirmar a origem deste navio.

Sobre este naufrágio há imensas perguntas ainda sem resposta — e muitas perguntas por fazer —, mas, neste momento, uma das dificuldades é garantir uma equipa baseada no Norte do país, que consiga continuar, de perto e com maior regularidade, este projecto de investigação arqueológica que seria impossível sem o empenho da autarquia. Para lá dos elementos do município, e dos achadores, que vivem em Esposende, todos os que, até agora, participaram na recolha e estudo destes achados estão envolvidos em múltiplos projectos, em várias partes do mundo, e não é fácil mobilizá-los para Belinho, para situações de emergência ou, por exemplo, para uma campanha de mergulho, caso o mar o permita.

O mar tem sido o marca-passo desta investigação. Foi ele que denunciou o naufrágio, atirando despojos para a praia em 2014, mas esta semana não deixou que lhe levassem os canhões que guarda ciosamente, há cinco séculos. Aliás, uma tentativa de mergulho de Alexandre Monteiro ia correndo muito mal, no domingo passado. “O naufrágio de Belinho esteve quase a fazer a sua última vítima” dizia, já meio a brincar, passado este episódio em que se viu atirado contra as pedras, e se teve de livrar do cinto de lastro e das botijas de ar, antes de ser salvo por João Sá. O escultor que alertara, em 2014, as autoridades para a importância destes achados, que encontrara, com familiares, na praia, voltou a ser fulcral para esta história. Ou não fosse ela um exemplo de cooperação entre cidadãos e a comunidade científica.

FEUP tem submarinos apontados à história

Há mais, na costa de Belinho, do que aquilo que se vê a olho nu (e o mar nem sempre está límpido para ajudar). Sob um manto de sedimentos e pedras há um navio inteiro por descobrir, e a detecção da área por onde se espalham os destroços deste naufrágio do século XVI seria impossível sem o apoio da tecnologia do Laboratório de Sistemas e Tecnologia Subaquática (LSTS) da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
A instituição, referência mundial no desenvolvimento, construção e operação de submarinos autónomos, é um dos parceiros desta investigação, à qual José Pinto, gestor de projectos no LSTS, foi atraído por causa de Alexandre Monteiro. A convite da Câmara de Esposende, este organizou um workshop de arqueologia subaquática no qual o engenheiro participou, por curiosidade em relação a uma área para a qual os submarinos com que trabalha são de grande utilidade. E a verdade é que, encantado com as histórias relatadas pelo arqueólogo, não saiu dessas sessões sem manifestar o interesse do laboratório em apoiar o seu trabalho.



Belinho, onde o LSTS está a utilizar sonares de varrimento lateral, capazes de ler o fundo do mar, mesmo abaixo da camada de sedimentos, fornecendo preciosas imagens tridimensionais dos sítios, e magnetómetros que detectam a presença de materiais ferrosos, como os pregos e cavilhas usados na construção naval, âncoras ou, neste caso, canhões, é só um dos projectos em que o laboratório está a colaborar com a arqueologia. José Pinto tem visitado outros locais, aconselhado por Alexandre Monteiro, e mesmo nas sessões de campo realizadas em Esposende recolheu dados sobre outros possíveis naufrágios, ou não fosse esta uma costa rica em vestígios que vão desde a época romana às décadas mais recentes.
O trabalho do LSTS tem sido tão profícuo que, na Universidade do Texas M&D, Filipe Castro, o português que ali dirige o ShipLab, já convenceu o responsável pelo departamento de Engenharia Oceânica local a estudar a possibilidade de parcerias com este grupo da FEUP, considerado, naquela universidade texana, “os melhores do mundo no que fazem”, garante o professor de Antropologia, explicando que já houve contactos no sentido de se avançar com um acordo de cooperação.   


Envolver a comunidade na arqueologia subaquática

Num país em que a arqueologia subaquática foi recentemente notícia por ter chegado a situação de emergência, fruto de um desinvestimento do Estado, a equipa que está a investigar o navio descoberto na praia de Belinho quer fazer deste projecto um exemplo internacional de boas práticas e o arqueólogo Alexandre Monteiro pretende, a partir deste trabalho, criar no Norte do país uma rede que envolva investigadores, técnicos municipais, clubes de mergulho e pescadores na salvaguarda de um património que está praticamente todo por descobrir.


A história recente do naufrágio de Belinho é já exemplar. Desde logo pela forma como os achadores das peças que o mar atirou para a praia em 2014, um quarteto de pessoas da localidade, entre os quais estão o escultor João Sá e o filho Alexandre, alertaram o Instituto de Gestão do Património Cultural — que comunicou com o município —, mantendo depois, ao longo destes anos, uma vigilância informal do local dos achados. Exemplar ainda foi a forma como a Câmara de Esposende, alicerçada nas competências e na rede de contactos de duas das suas técnicas, a arqueóloga Ana Almeida e a historiadora Ivone Magalhães, tomou em mãos a salvaguarda dos achados, convocando para o projecto saberes sedeados em várias universidades da Europa e dos EUA.
No início desta semana apanhámo-los na praia, entre os banhistas que, humores do mar, têm areia onde se sentar, no Verão, na maré baixa, numa praia que, fruto da erosão costeira, ficou quase toda ela sem areal e preenchida por enormes seixos rolados. Na penedia, a equipa que vigia de perto o navio quinhentista que jaz não muito longe dali faz alguns trabalhos, impedida que fora, de manhã, pela ondulação, de levar a cabo uma operação de levantamento dos quatro canhões e da âncora já descobertos.

Na praia, para além de Ivone Magalhães e Ana Almeida está um antigo engenheiro civil atraído para a arqueologia, Filipe Castro, ex-responsável pelo Centro Nacional de Arqueologia Subaquática e hoje director do ShipLab da Universidade de Texas A&M, e um antigo engenheiro zootécnico, Alexandre Monteiro, com um chapéu à Indiana Jones. Desde que se estreou no mergulho, nos Açores, este investigador do Instituto de Arqueologia e Paleociências da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa mudou de vida e vem participando em inúmeros projectos de identificação, estudo e salvaguarda de património marítimo em vários pontos do mundo, e está a fazer doutoramento sobre o naufrágio de um navio português na costa da Austrália.
Para além deste investigador, estão o americano John Sexton, um bem-humorado e experiente instrutor de mergulho que, na reforma, escolheu Portugal para viver, um piloto de aviação civil, Flávio Biscaia, voluntário com imenso jeito para o desenho, que já fora responsável por representações minuciosas das madeiras encontradas, e um dos achadores, o jovem designer gráfico Alexandre Sá, que por obra de um acaso — e dos mergulhos que faz com o pai — se viu também metido nestas andanças. Ah, e é preciso não esquecer José Pinto, o engenheiro informático do Laboratório de Sistemas e Tecnologia Subaquática, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, que coordena a operação dos submarinos não tripulados envolvidos nesta pesquisa e que não esconde o entusiasmo pelo contributo que a engenharia está a dar para a arqueologia.


A conversa em torno das múltiplas proveniências dos membros da equipa veio à tona no final dessa tarde solarenga, em que se discutia a dificuldade de manter, em Esposende, um grupo permanente capaz de, rapidamente, aproveitar as abertas concedidas pelo mar para estudar este e outros locais de naufrágios já identificados na costa Norte. Depois da experiência da criação de um centro dedicado à arqueologia náutica em Alcácer do Sal, parceria entre este município e a universidade de Alexandre Monteiro, este gostaria de ver o modelo replicado no Norte, onde há um trabalho reconhecido na arqueologia feita em terra, mas faltam, neste momento, investigadores dispostos a “mergulhar” na história, explica.

Alexandre Monteiro, um crítico da “inoperância” do Estado na defesa do cumprimento da Convenção sobre a Protecção do Património Subaquático, da UNESCO, acredita que uma das formas de se avançar no estudo dos inúmeros naufrágios ocorridos na costa Norte do país passa pelo desenvolvimento de um projecto capaz de envolver pescadores, senhores de um conhecimento do terreno que poucas vezes chega à comunidade científica, técnicos municipais, com Esposende na linha da frente, voluntários e clubes de mergulho como o da associação Amigos do Mar, de Viana do Castelo, que ainda esta semana participou numa visita ao navio. O arqueólogo acredita que, com acompanhamento e formação, é possível transformar estes clubes em defensores dos fundos marinhos ricos em história mas, tantas vezes, alvo fácil de saqueadores de tesouros. Esses que, desta vez, parece que foram ultrapassados pelos arqueólogos na corrida ao navio de Belinho.

Blogue Pedrinhas & Cedovém com 

2017/09/27

Empresas exploradoras das barragens pagam gestão de orla costeira?


Hoje, todos sabemos que um dos grandes causadores pela erosão da orla da costa de Portugal são as barragens. Os inertes que são expelidos dos rios e se depositavam na costa litoral, hoje já não acontece. A força dos rios foi reduzida, devido às grandes obras de engenharia, cuja construção é antrópica com um determinado fim, que para o atingir tem de eliminar outros, principalmente a nivel ecológico.

Não é verdade, que quem realiza esse impedimento do curso natural de água, não devia contribuir (diretamente ou indiretamente) para diminuir os danos causados pela falta do normal percurso da água?

Os responsáveis pela construção antrópica, causadora de danos nos habitats, ecossitemas, paisagens naturais, não deviam contribuir em prol da recuperação ou manutenção causados pelos seus danos?

A verdade é que hoje estamos numa época que não interessa o longo prazo, interessa sim o enriquecer rápido, tendo chegado ao ponto de endividar gerações vindouras.

O balanço de aspetos negativos e positivos, mais gerais poderão ser vistos neste quadro:



Como podemos ver, as vantagens da construção de uma barragem na generalidade são um resultado a curto prazo e as desvantagens são a longo prazo. Se temos de caminhar num sentido mais ecológico e saudável. Este é um problema que tem de ser tomado agora em conta.

ID de Pedrinhas & Cedovem

INAG - Instituto da Água arrasou entrega das barragens à EDP sem concurso público

Em 2006 o Instituto da Água fez vários alertas sobre o diploma que estendeu o prazo de exploração das barragens da EDP sem concurso, mas foi ignorado. Entre eles incluía-se a transmissão ilegal de direitos de utilização sem concurso e a atribuição indevida de isenções.


Novembro de 2006. António Mexia estava à frente da gestão da EDP há menos de cinco meses quando o extinto Instituto da Água (INAG) enviou ao ministro do Ambiente, Francisco Nunes Correia, um parecer sobre as propostas de alteração feitas pelo Ministério da Economia e Inovação (MEI), de Manuel Pinho, ao projecto de decreto-lei das utilizações dos recursos hídricos.

António Mexia

A mensagem contida no documento (enviado ao PÚBLICO pela Agência Portuguesa do Ambiente) era clara: “Constata-se que as propostas de alteração remetidas pelo MEI violam frontal e grosseiramente o disposto numa Lei de Bases [a Lei da Água]". Assim, qualificando-as com expressões como “totalmente descabidas”, “não faz qualquer sentido” ou “não tem cabimento”, o instituto que tinha a tutela dos recursos hídricos era peremptório: “Não devem ter acolhimento”.

No conjunto de pontos acrescentados ao projecto de diploma pelos assessores de Manuel Pinho (entre eles João Conceição, hoje administrador da REN e um dos nove arguidos, tal como o ex-ministro, na investigação do Ministério Público aos contratos de compensação da EDP), o INAG viu uma tentativa de “subordinação” do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional (MAOTDR) ao Ministério da Economia em matérias da sua “competência própria”. E uma das violações mais graves que identificou foi a introdução de pontos que permitiam à EDP continuar a explorar 27 centrais hidroeléctricas sem concurso público, através de uma subconcessão de direitos de utilização dos recursos hídricos por parte da REN, a quem estes seriam concessionados pelo Estado.



Por outro lado, o instituto sublinhava que a figura da subconcessão (destinada a enquadrar a passagem de direitos para a EDP) não só não estava legalmente prevista, como contrariava a resolução do Conselho de Ministros de 2005 que aprovou a estratégia nacional para a energia e que “expressamente refere o estímulo à concorrência” como objectivo fundamental. Mas o alerta caiu no vazio.

Contratos assinados no sábado



Seis meses depois, a versão final do diploma (o decreto-lei 226 – A, de Maio de 2007) veio mesmo reconhecer que a EDP poderia continuar a utilizar os recursos hídricos sem concurso, ou seja, a explorar as suas centrais, como até então, em média por mais 25 anos. O Estado celebrou um contrato de concessão com a concessionária da rede nacional de transporte de electricidade, a REN, reconhecendo-lhe o “direito à utilização do domínio público hídrico afecto” às centrais hidroeléctricas. Depois, a REN transmitiu os “correspondentes direitos [de utilização]” à EDP (a figura da subconcessão foi substituída pela da transmissão de direitos)”. O diploma estabeleceu em dois anos (a contar de 1 de Junho de 2007) o prazo máximo para a assinatura dos contratos de concessão e transmissão entre o Estado, a REN e a EDP (cabendo a sua preparação ao INAG) e as assinaturas acabaram por ter lugar dez meses depois da publicação da lei, num sábado, dia 8 de Março de 2008.


A EDP pagou ao Estado 704 milhões de euros e garantiu o direito a explorar as 27 barragens por vários anos (a maioria até 2052). Além de ser um dos temas centrais na investigação por corrupção aos contratos da EDP anunciada pelo Ministério Público em Junho, este processo também está a ser analisado pela Comissão Europeia. Bruxelas quer saber se o prolongamento das concessões sem concurso é compatível com as regras europeias de contratação pública.

Orlando Borges
O parecer de 2006, assinado pelo ex-presidente do INAG Orlando Borges (hoje à frente da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos), não poupava nas palavras para assinalar ao ministro com a tutela do Ambiente que as propostas do MEI “beneficiam claramente um sector de actividade [o da produção de energia] em detrimento de outros”. O documento chegava a referir que certos pontos introduzidos pela equipa de Manuel Pinho pretendiam “beneficiar à custa dos recursos hídricos o sector eléctrico” e dizia considerar “pouco ético” que as alterações propostas tivessem sido “apresentadas como foram, alterando directamente o diploma”.

Favorecimento ao sector eléctrico



Um exemplo do que o INAG destacava como favorecimento ao sector eléctrico foi a introdução do ponto que isentou a EDP do pagamento da taxa de recursos hídricos. Uma “isenção contrária ao espírito da Lei da Água”, referia o instituto, reforçando que “não é aceitável que haja isenções para alguns sectores em detrimento de outros”.

Na versão final do diploma, o artigo que isenta a produção hidroeléctrica da taxa de recursos hídricos já não consta, mas a verdade é que a EDP conseguiu abater ao valor que pagou pelos direitos de utilização dos recursos hídricos cerca de 55 milhões de euros (pagando no total 704 milhões). Ainda assim, nem o despacho de 15 de Junho que fixou o valor das concessões utiliza a palavra isenção, referindo-se antes a um “ajustamento” a deduzir aos 759 milhões.

No parecer, o INAG também criticava o papel que o MEI pretendia atribuir à Direcção-geral de Energia e Geologia (DGEG) na gestão dos recursos hídricos utilizados na produção eléctrica, sendo um dos exemplos o facto de se pretender que passasse a ser a DGEG a tomar a posse administrativa dos bens e a geri-los, em caso de reversão para o Estado. Nesta data, a DGEG era presidida por Miguel Barreto, outro dos arguidos na investigação, que em 2007 atribuiu à EDP uma licença sem prazo de duração para a central termoeléctrica de Sines.

Miguel Barreto
Feitos os vários alertas ao gabinete do ministro Nunes Correia, o diploma do regime de utilização dos recursos hídricos seguiu para aprovação num processo de contornos pouco definidos, em que o INAG deixou de ser parte e em que várias das propostas do MEI prevaleceram, apesar do parecer desfavorável.

Questionada sobre a existência deste parecer negativo, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) garantiu ao PÚBLICO que “o INAG apenas teve conhecimento do teor” do decreto-lei dos recursos hídricos “após a sua publicação”. Foi aí que o instituto ficou a saber que o prazo de exploração das barragens tinha sido prorrogado sem concurso e que tinha dois anos para preparar os respectivos contratos de concessão. Foi só então que o instituto com a tutela dos recursos hídricos soube que havia um valor de “equilíbrio económico-financeiro” que a EDP teria de pagar pela utilização dos direitos e que este seria calculado com base “em duas avaliações” de entidades financeiras (o Crédit Suisse e o Caixa BI) e definido num despacho de Pinho e Nunes Correia.

Manuel Pinho

Francisco Nunes correia

Em Maio, quando se pronunciou sobre a queixa que lhe foi apresentada em 2012 “por vários cidadãos” portugueses contra auxílios de Estado indevidos à EDP na fixação do valor das concessões, Bruxelas afastou qualquer ilegalidade relativa a esta matéria, considerando que a metodologia usada pelo Estado para definir o preço que a EDP pagou pela extensão dos prazos foi “satisfatória” (por cá, o processo que levou à definição deste valor é um dos pontos sobre os quais incide a investigação do Ministério Público).
Na decisão, a Comissão Europeia também recordou que, “em caso de concurso, Portugal teria tido de pagar à EDP o montante dos activos [hidroeléctricos] não amortizados no final do período de concessão” previsto nos antigos contratos de aquisição de energia (CAE), que foram substituídos pelos CMEC "custos para a manutenção do equilíbrio contratual”. Ou seja, a alternativa a prolongar as concessões sem concurso seria o Estado compensar a eléctrica pelo valor dos investimentos que ainda não estavam amortizados.


Na resposta ao PÚBLICO, a APA sublinhou ainda que, a partir do momento em que o diploma saiu, o INAG concentrou-se em garantir que, “na implementação das disposições definidas” na lei, a “titularidade dos bens da concessão se mantivesse no domínio público, revertendo para o Estado no final da concessão” e não para as empresas.